terça-feira, 19 de agosto de 2014

Obsession - Chapter Seven




Eu não tinha gasolina na picape, mas tinha uma cama e 20 dólares. Fui depressa até o quarto pegar a minha bolsa e as minhas chaves. Precisava arrumar um emprego o quanto antes.
Debaixo do limpador de para-brisa do meu carro estava preso um bilhete. Peguei o papel e li:
O tanque está cheio.
Liam.
Liam encheu o tanque do meu carro? Senti um calor repentino dentro do peito. Que gentil. A palavra “aproveitador” dita por Harry ecoou nos meus ouvidos e percebi que precisaria reembolsar Liam o mais rápido possível. Não iria passar por aproveitadora feito o meu pai.
Entrei na picape, dei a partida com facilidade e saí de marcha à ré. Ainda havia vários carros em frente à casa, embora não tantos quanto na noite anterior. Todos passaram a noite ali? Estava lá esse tempo todo? Não tinha visto ninguém de manhã, exceto Harry e a menina que ele tinha enxotado.
Harry não era uma pessoa muito simpática, mas era justo; isso eu tinha que admitir. E também era bem gostoso. Eu só precisava aprender a ignorar esse fato. Não deveria ser muito difícil. Não imaginava que Harry fosse ficar perto de mim com muita frequência. Ele não parecia gostar da minha companhia.

Decidi arrumar um emprego em Rosemary para economizar gasolina, assim poderia sair mais rápido da casa de Harry. Tinha encontrado um jornal das redondezas e circulado vários anúncios. Dois eram para vagas de garçonete em restaurantes próximos e fui até lá me candidatar. Embora tivesse a sensação de que receberia a ligação de um deles ou de ambos, acho que não gostaria de trabalhar em nenhum dos dois. Se fossem minhas únicas opções, aceitaria. Só que as gorjetas não pareciam ser grande coisa; e você precisa das gorjetas em um emprego desses.
Passei também na farmácia dos arredores para me candidatar ao emprego de caixa, mas a vaga já tinha sido preenchida. Depois fui ao consultório de um pediatra e me ofereci para o cargo de recepcionista, mas eles queriam experiência, o que eu não tinha.
Circulei um último anúncio, mas deixei para o final porque achava que seria uma vaga muito difícil de conseguir: um cargo de garçonete no country clube local. Pagava sete dólares a mais por hora e as gorjetas seriam bem melhores. Perfeito para o meu plano de me virar sozinha. Além do mais, o emprego tinha benefícios. Um seguro saúde seria ótimo.
O anúncio pedia para os candidatos se apresentarem na sede administrativa, atrás do pavilhão do campo de golfe. Segui as instruções e parei a minha picape ao lado de um Volvo chique. Ajeitei o retrovisor para dar uma conferida no meu visual. Ao passar na farmácia, tinha comprado um tubinho de rímel. Só um pouquinho de rímel ajudaria o meu rosto a parecer mais velho. Passei a mão pelos meus cabelos louro-claros e fiz uma prece rápida para conseguir aquele emprego.
Ao passar no quarto para pegar a minha bolsa, aproveitei para trocar de roupa. Tirei o short e a camiseta e coloquei um vestido sem mangas, mais indicado para conseguir a vaga. Harry disse que eu tinha cara de criança. Queria parecer mais velha. O rímel e o vestido deviam ajudar.
Não me dei ao trabalho de trancar a picape; ali ela não corria risco nenhum de ser roubada. Não quando a maioria dos carros estacionados em volta custava mais de 60 mil dólares. Havia poucos degraus até a porta do escritório. Respirei fundo pela última vez e abri a porta.
 Uma mulher de corpo mignon, cabelos castanhos curtos e óculos de armação de metal estavam atravessando a recepção quando entrei. Ela olhou de relance para o meu rosto a caminho de um dos escritórios e parou. Conferiu rapidamente o resto do meu visual e em seguida meneou a cabeça para mim.
– Veio procurar emprego? – perguntou autoritária.
– Sim, senhora. Vim me candidatar ao cargo de garçonete.
Ela deu um sorriso muito sutil.
– Ótimo. Você tem a aparência certa. Com um rosto assim, os sócios não vão prestar atenção nos erros. Sabe dirigir um carrinho de golfe e abrir uma garrafa de cerveja com abridor?
Assenti.
– Está contratada. Preciso de alguém no campo imediatamente. Venha comigo; vamos arrumar um uniforme para você.
Não discuti. Quando ela deu meia-volta e começou a andar com passos firmes na direção a outro cômodo, fui atrás. Ela era uma mulher com uma missão. Abriu uma porta e entrou.
– Que tamanho de short você usa, 36? A parte de cima vai ser menor do que a que você está usando, mas os homens vão adorar. Eles gostam de busto grande. Vejamos... – Ela estava falando sobre os meus peitos. Que constrangedor! Ela pegou um short branco e uma camisa polo azul-bebê da prateleira e os jogou para mim. – Essa blusa é tamanho P. Tem que ficar justa. Nós somos um estabelecimento de classe, mas os homens aqui também gostam de admirar a paisagem. Assim, proporcionamos o que eles querem dentro de um short branco e de uma camisa polo justa. Não se preocupe com a papelada. Peço para você preencher depois do expediente. Se passar uma semana fazendo isso e fizer direitinho, podemos pensar em mudar você para o salão de jantar. Também estamos precisando de funcionários lá. Rostos como o seu não são fáceis de achar. Agora troque de roupa, vou ficar esperando para levar você até o carrinho de bebidas.
Duas horas mais tarde, eu havia parado duas vezes ao lado de cada um dos dezoito buracos do campo e as minhas bebidas tinham acabado. Todos os golfistas queriam me perguntar se eu era nova e comentar sobre o meu excelente serviço. Eu não era burra. Via o jeito como os homens mais velhos me secavam. Felizmente, todos pareciam tomar cuidado para não avançar nenhum sinal.
A senhora que me contratou enfim me dissera o seu nome depois de praticamente me empurrar para cima do carrinho e me despachar para o campo. Chamava-se Darla Lowry e cuidava da contratação dos funcionários. Era também um verdadeiro furacão. Ela me disse para voltar dali a quatro horas ou quando as minhas bebidas acabassem, o que acontecesse primeiro. As bebidas acabaram em duas horas.
Entrei no escritório e Darla espichou a cabeça para fora de uma das salas.
– Já? – estranhou, saindo com as mãos na cintura.
– Sim, senhora. Minhas bebidas acabaram.
Ela levantou as sobrancelhas. – Todas?
– Sim, todas.
Um sorriso cruzou o seu rosto sério e ela deixou escapar uma risada.
– Ora, quem diria? Sabia que eles iriam gostar de você. Aqueles tarados estavam mesmo dispostos a comprar tudo o que você tivesse só para fazê-la ficar mais tempo por perto.
Eu não tinha certeza se era isso mesmo. Fazia calor no campo; toda vez que eu parava junto a algum buraco, os golfistas faziam cara de aliviados.
– Venha, vou mostrar para você onde reabastecer. Você tem que continuar a servir até o sol se pôr.
Depois volte aqui para preenchermos a tal papelada.
Quando voltei à casa de Harry, já estava escuro. Eu tinha passado o dia inteiro fora. Os carros, antes parados no acesso à casa, haviam desaparecido. A garagem de três vagas estava fechada, com um conversível vermelho caro estacionado do lado de fora. Tomei cuidado para estacionar a picape fora do caminho. Talvez Harry fosse receber mais amigos e eu não queria que o meu carro causasse problemas. Estava exausta. Só queria ir para a cama.
Parei em frente à porta e me perguntei se deveria bater ou simplesmente ir entrando. Harry disse que eu poderia ficar um mês. Com certeza isso devia significar que eu não precisava bater toda vez que chegasse.
Girei a maçaneta e entrei. O hall estava vazio e surpreendentemente limpo. Alguém já tinha arrumado a bagunça ali. O piso de mármore chegava a brilhar. Ouvi uma TV ligada na ampla sala de estar aberta. Não havia muitos outros barulhos. Fui até a cozinha. A cama estava me esperando.
Queria muito uma ducha, mas ainda não tinha conversado com Harry sobre que chuveiro usar e não queria incomodá-lo nessa noite. No dia seguinte, quando acordasse, desceria de fininho para usar o mesmo que usara de manhã.

Cheiro de alho e queijo invadiu as minhas narinas quando entrei na cozinha e minha barriga roncou imediatamente. Eu tinha na bolsa um pacote de biscoitos de manteiga de amendoim e uma caixinha de leite que havia comprado em uma loja de conveniência a caminho de casa. Ganhara algum dinheiro em gorjetas durante o dia, mas não podia gastar tudo em comida. Precisava economizar o máximo que pudesse.
Havia uma panela tampada sobre o fogão e uma garrafa de vinho vazia em cima da bancada. Junto com a garrafa, dois pratos com o que restava de uma apetitosa massa. Harry estava acompanhado.
Um gemido veio lá de fora, seguido por um barulho alto.
Fui até a janela, mas, assim que o luar iluminou a bunda nua de Harry, congelei. Uma linda bunda nua. Linda mesmo. Embora eu nunca tivesse visto a bunda nua de homem nenhum. Subi os olhos pelas suas costas e suas costas eram totalmente limpas sem nenhuma tatuagem, me chamou a atenção já que seu braço e seu peito eram cobertos por tatuagens.

Movia os quadris para frente e para trás, e reparei nas duas pernas compridas que apertava junto às laterais do corpo. O gemido alto se repetiu quando ele acelerou os movimentos. Tapei a boca e dei um passo para trás. Harry estava transando. Do lado de fora. Na varanda. Não consegui desviar os olhos. Ele segurou as pernas dos dois lados do próprio corpo e as abriu mais ainda. Um grito alto me surpreendeu. Duas mãos surgiram nas costas dele e o arranhando.

Eu não deveria estar vendo aquilo. Sacudi a cabeça para clarear os meus pensamentos, me virei e entrei depressa na despensa e no meu quartinho escondido. Não podia pensar em Harry daquela forma. Ele já era um gato; vê-lo transando causava sensações estranhas no meu coração. Não que eu quisesse ser uma daquelas meninas com quem ele transava e depois jogava fora, mas ver o seu corpo daquele jeito e ouvir o que ele fazia a menina sentir me deixava com um pouquinho de inveja. Eu não sabia o que era aquilo. Ser virgem aos 19 anos era triste. James dizia que me amava, mas ele queria uma namorada capaz de sair de casa e transar sem ter que se preocupar com a mãe doente.
Queria uma experiência normal de colégio. Eu precisava dele mais do que nunca, mas não podia lhe dar isso. Então o liberei.

Na véspera, quando avisei que iria para a casa do meu pai, ele me implorara que ficasse. Dissera que me amava e que não tinha me esquecido. Que todas as meninas com quem tinha ficado não passavam de pálidas substitutas. Eu não conseguia acreditar em tudo aquilo. Passara noites demais com medo, chorando até cair no sono. Quando precisei de alguém para me abraçar, ele não estava ao meu lado. James não entendia o que era o amor.
Fechei a porta do meu quarto e caí na cama, sem nem sequer puxar as cobertas. Precisava dormir.
Tinha que estar no trabalho às nove da manhã. Antes de pegar no sono, sorri, grata por ter uma cama e um emprego.

O sol estava particularmente forte. Darla não queria que eu prendesse os cabelos em um rabo de cavalo. Achava que os homens o preferiam solto. Infelizmente, pois isso me fazia morrer de calor.
Estendi a mão para pegar um cubo de gelo dentro do cooler, esfreguei-o no pescoço e o deixei cair dentro da camiseta. Já estava quase no 15o buraco pela terceira vez no dia.
Ninguém na casa estava acordado quando eu levantara. Os pratos vazios continuavam em cima da bancada. Eu os recolhi e joguei no lixo o resto de comida da panela que tinha ficado a noite inteira fora da geladeira. Fiquei triste com tanto desperdício. A comida tinha um cheiro incrível quando eu chegara a casa na noite anterior.

Em seguida joguei fora a garrafa vazia de vinho e encontrei as taças na varanda em cima da mesa, ao lado de onde tinha visto Harry transando com a desconhecida. Pus a louça na máquina, liguei e passei um pano na bancada e no fogão.
Duvidava que Harry fosse notar, mas aquilo fazia eu me sentir melhor com o fato de estar dormindo de graça em sua casa. Parei junto a um grupo de jogadores no 15o buraco. Era um pessoal mais jovem que eu já tinha visto quando estavam no terceiro buraco. Compravam bastante e davam boas gorjetas, então eu aturava as suas cantadas. Não era provável que algum deles quisesse mesmo sair com a menina do carrinho de bebidas do campo de golfe. Eu não era burra.

– Olhe ela aí – disse um dos caras quando parei ao seu lado e sorri.
– Ah, minha garota preferida voltou. Está um calor infernal, moça. Preciso de uma gelada. Ou duas.
Estacionei o carrinho, desci e fui pegar as bebidas na parte de trás do veículo.
– Outra Horan ? – perguntei a ele, orgulhosa por me lembrar do seu último pedido.
– Quero sim, gata.
Ele piscou para mim e chegou mais perto, o que me deixou um pouco constrangida.
– Ei, Niall, também quero uma. Deixe um pouco para a gente – disse outro e eu mantive o sorriso no rosto enquanto pegava a sua bebida. Em retribuição, ele me deu uma nota de 20 dólares. – Pode ficar com o troco.
– Obrigada – agradeci, enfiando o dinheiro no bolso. Ergui os olhos para os outros. – Quem é o próximo?
– Eu – respondeu um de cabelos pretos e olhos castanhos, acenando com
Uma nota.
– Corona, certo? – perguntei, pondo a mão dentro do cooler para pegar a mesma bebida que ele pedira da última vez.
– Acho que estou apaixonado. Ela é linda e lembra a cerveja que eu bebo. E ainda abre a porcaria da garrafa para mim. – Pude ver que ele estava brincando quando pôs a nota na minha mão e pegou
a cerveja. – O troco é seu, linda.
Quando pus a nota no bolso, reparei que era de 50. Aqueles caras não se importavam mesmo em jogar dinheiro fora. Que gorjeta mais ridícula! Tive vontade de lhe dizer para não me dar tanto assim, mas achei melhor não. Eles deviam dar gorjetas como essa o tempo todo.
– Qual é o seu nome? – perguntou um dos rapazes.
Quando me virei, vi o de cabelos escuros e pele morena esperando para me fazer seu pedido e ouvir a minha resposta.
– (S/n) – respondi, pondo a mão dentro do cooler para pegar a cerveja Fina que ele tinha pedido.
Abri a tampa e lhe entreguei a garrafa.
– Você tem namorado (s/n) ? – perguntou ele, pegando a cerveja e passando o dedo na lateral da minha mão em uma carícia.


– Hã... Não - respondi, sem saber se teria sido melhor mentir nessa situação.
Ele deu um passo na minha direção e estendeu a mão com o pagamento e a gorjeta.
– Eu sou oZayn – falou.
– Hum... pra-prazer, Zayn – gaguejei em resposta.
A expressão intensa dos seus olhos castanhos me deixava nervosa. Ele poderia ser perigoso. Além disso, recendia a água de colônia cara. Um cara refinado. Ele fazia parte da elite e sabia disso. Por que estava me azarando?

A expressão intensa dos seus olhos escuros me deixava nervosa. Ele poderia ser perigoso. Além disso, recendia a água de colônia cara. Um cara refinado. Ele fazia parte da elite e sabia disso. Por que estava me azarando?
– Assim não vale Zayn. Pega leve, cara. Você está dando tudo de si. Não é só porque o seu pai é dono deste clube que você pode escolher primeiro – brincou o louro.
Pelo menos eu acho que ele estava brincando.
Zayn ignorou o amigo e continuou a me encarar.
– A que horas você sai?

Xi... Se eu estava entendendo direito, o pai de Zayn era o meu patrão. A última coisa que eu queria era sair com o filho do dono. Seria péssimo.
– Trabalho até a hora de fechar – expliquei, entregando a cerveja para o último dos quatro e pegando o dinheiro.
– Que tal eu vir buscar você e levá-la para jantar? – perguntou Woods, agora muito perto de mim.
Se eu me virasse, ele colaria em meu corpo.
– Está calor e eu estou exausta. Tudo o que vou querer depois do expediente é tomar uma ducha e dormir.
Um hálito morno fez cócegas na minha orelha e eu estremeci enquanto gotas de suor escorriam pelas minhas costas.
– Está com medo de mim? Não precisa ficar. Sou inofensivo.
Eu não sabia muito bem como agir em relação a ele. Nunca fui boa de azaração e tinha quase certeza de que era isso que estava acontecendo ali. Ninguém me paquerava havia anos. Depois que terminei com James, meus dias tinham sido consumidos pelo colégio e depois pela minha mãe. Eu não tinha tempo para mais nada. Os caras nem se davam ao trabalho.
– Não estou com medo de você. É que não estou acostumada com esse tipo de coisa – respondi, me desculpando. Não sabia a forma certa de reagir.
– Que tipo de coisa? – o indagou, curioso. Finalmente me virei para encará-lo.
– Homens. E azaração. Pelo menos acho que é isso que está acontecendo.

Eu parecia uma idiota. O sorriso que se abriu devagar no rosto de Zayn me deu vontade de me esconder debaixo do carrinho de golfe. Aquela situação era mais do que eu conseguia lidar.
– Sim, com certeza é uma azaração. Mas como alguém tão inacreditavelmente gostosa não está acostumada com esse tipo de coisa?
As palavras dele me deixaram tensa. Balancei a cabeça. Precisava passar para o 16o buraco.
– É que eu passei esses últimos anos meio ocupados. E, hã, se vocês não quiserem mais nada, os jogadores do buraco 16 já devem estar bravos comigo.
Zayn compreendeu e deu um passo para trás.

- Ainda vamos conversar. Com certeza. Mas por enquanto vou deixar você voltar ao trabalho.
Fui depressa até a lateral do carrinho e me sentei no banco do motorista. Um bando de aposentados jogava no buraco seguinte. Nunca em toda a minha vida fiquei tão feliz por ser alvo dos olhares cobiçosos de idosos. Ao menos, eles não partiam para o ataque.
Ao voltar para a minha picape, fiquei aliviada por não ver sinal de Zayn. Deveria ter entendido que ele estava apenas provocando a funcionária. Eu tinha ganhado uns 200 dólares de gorjeta nesse dia e decidi que não tinha problema me dar ao luxo de uma refeição de verdade. Entrei no estacionamento do McDonald’s e pedi um cheesebúrguer com fritas, que comi feliz no trajeto de volta até a casa de Harry. Não havia carro nenhum parado na frente da casa desta vez.
Eu hoje não iria surpreendê-lo transando. Mas, pensando bem, ele poderia ter levado alguém até lá de carro. Entrei e parei no hall. A TV não estava ligada. Não havia som algum, mas a porta estava destrancada. Não precisei usar a chave escondida sobre a qual ele havia me falado.

Eu estava muito suada. Precisava de uma ducha antes de ir dormir. Entrei na cozinha e chequei a varanda da frente para ter certeza de que nenhuma estripulia sexual estava acontecendo ali. Tomar uma ducha seria fácil.
Fui até o meu quarto e peguei a cueca samba-canção e a camiseta velha e sem mangas de James que eu usava para dormir. James tinha me dado essas roupas quando éramos jovens e bobos. Queria que eu dormisse vestida com alguma coisa dele e eu as usava desde então, embora agora estivessem muito mais justas do que na época. Eu tinha ganhado algumas curvas desde os 15 anos.

Saí da casa e inspirei profundamente a brisa do mar. Era a minha terceira noite ali e eu ainda não tinha dado um mergulho. Chegara a casa tão cansada que não tivera energia para isso. Desci os degraus e pus o meu pijama no banheiro antes de tirar o tênis.
A areia ainda estava quente com o calor do sol. Atravessei-a no escuro até a água avançar ao meu encontro. O frio me espantou e fiquei ofegante, mas deixei a água salgada cobrir os meus pés.
O sorriso da minha mãe ao me contar sobre a vez em que havia brincado no mar surgiu na minha lembrança. Eu ergui o rosto para o céu e sorri. Finalmente tinha chegado. Estava lá por nós duas.
Um barulho à esquerda interrompeu os meus pensamentos. Virei-me e olhei mais adiante na praia.
Bem no instante em que a lua surgiu por detrás das nuvens, Harry apareceu na escuridão. Estava correndo.
Mais uma vez, não usava camisa. O short pendia baixo nos quadris estreitos. Fiquei hipnotizada com a aparência daquele corpo correndo na minha direção. Não tive certeza se deveria me mexer ou se ele tinha terminado. Ele desacelerou até parar ao meu lado. O suor no seu peito reluzia à luz suave. Por mais estranho que fosse, senti vontade de esticar a mão para tocá-lo. Nada que aquele corpo produzisse podia ser nojento. Era impossível.
– Você voltou – disse ele, respirando fundo alguma vez.
– Acabei de sair do trabalho – falei, tentando olhar para os olhos dele e não para o seu peito.
– Quer dizer que arrumou um emprego?
– É. Ontem.
– Onde?
Não sabia ao certo o que sentia revelando essas coisas. Ele não era um amigo. E era evidente que eu jamais o consideraria da família. Nossos pais podiam até ser casados, mas ele não parecia querer envolvimento algum nem com o meu pai nem comigo.
– No country club de Kerrington – respondi.
Harry levantou as sobrancelhas e deu um passo mais para perto de mim. Segurou o meu queixo com uma das mãos e virou o meu rosto para cima.
– Você está de rímel – falou, examinando o meu rosto.
– Estou.
Tirei o meu queixo da mão dele. Ainda que ele estivesse me deixando dormir na sua casa, não gostava que me tocasse. Ou talvez gostasse e fosse justamente esse o problema. Não queria gostar
que ele me tocasse.
– Deixa você mais com cara da sua idade. – Ele recuou e fez uma lenta avaliação das minhas roupas. – Você é a garota do carrinho de bebidas no campo de golfe – disse, tornando a erguer os olhos.
– Como você adivinhou?
Ele acenou para mim com uma das mãos.
– Pela roupa. Shortinho branco justo e camisa polo. É o uniforme.
Fiquei grata pela escuridão. Tive certeza de que estava vermelha de vergonha.
– Você está fazendo um estrago, não está? – perguntou ele em tom de quem acha graça.
Em dois dias, eu tinha ganhado mais de 500 dólares em gorjetas. Para ele isso não era um estrago, mas para mim, sim. Dei de ombros.
– Fique aliviado em saber que vou sair daqui a menos de um mês.
Ele não reagiu na hora. Eu provavelmente deveria entrar e tomar a minha ducha. Comecei a dizer alguma coisa, mas ele então se aproximou.
– Eu provavelmente deveria ficar. Aliviado, quero dizer. Aliviado para cacete. Só que não estou, (S/n). – Ele fez uma pausa e se inclinou para sussurrar no meu ouvido. – Por que será?
Minha vontade foi estender as mãos e segurar os braços dele para não desmoronar, mas me contive.
– Fique longe de mim, (S/n). Você não vai querer chegar muito perto. Ontem à noite... – Ele engoliu em seco. – Não paro de pensar em ontem à noite. Saber que você estava vendo me deixa louco. Então fique longe. Estou me esforçando ao máximo para ficar longe de você.

Ele se virou e começou a correr de volta para casa enquanto eu ficava ali parada, tentando não desabar na areia.
O que ele quisera dizer com aquilo? Como sabia que eu os tinha visto? Quando vi a porta da casa se fechar atrás dele, voltei andando para lá e fui tomar um banho. Suas palavras me manteriam acordada por boa parte da noite.



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